Vinho branco, rosé, tinto e… verde? A dúvida é pertinente e acredite, comum, mesmo entre encarregados do serviço do vinho em geral ou do atendimento ao turista em particular. O caminho para elucidar a confusão gerada em torno das cores, que na verdade são “estilos” de vinho, remete a factos históricos e muita evolução na vinha e adega, questões essas que vamos abordar no decorrer deste texto. Amantes do vinho ou do disco cromático, aí vamos nós!
Em primeiro lugar, convém deixar bem claro que vinho verde não existe, pelo menos enquanto um estilo de vinho. Agora, a Região dos Vinhos Verdes - ou Vinho Verde DOC - como é mundialmente conhecida, situa-se na porção mais a noroeste de Portugal, fazendo fronteira com o próprio oceano Atlântico a oeste, com o Rio Minho, fronteira natural entre Portugal e Espanha (Galicia) a norte, e com as montanhas do Parque Nacional do Gerês a leste. Também estende-se um pouco além do Rio Douro, ao sul. A DOC estende-se por 15.000ha e está dividida em nove sub-regiões.
Vinho Verde, a Região, tem um clima marítimo moderado, graças às influências da costa atlântica e ao emaranhado de vales que afunilam os ventos do mar em direção ao interior do continente. A região é afetada pela chuva em todas as estações, com níveis pluviométricos na faixa de 1.500mm/ano. O excesso de água é compensado por um solo granítico com textura arenosa, promovendo a drenagem necessária ao sucesso da viticultura.
E foi justamente depois de dominar a viticultura em uma área tão úmida e de difícil amadurecimento das uvas, que o resultado chegou aos vinhos tão celebrados mundialmente! Vinhos esses, que chegam até mesmo a ser sinónimo de Portugal para o mundo, e atrair a atenção e curiosidade de tantos turistas quando em visita ao país. A Região, hoje, anuncia-se como “Verde”, pois assim é aos olhos de quem a visita, e pode conferir a natureza exuberante.
Mas nem sempre foi assim. No passado, a área era dominada por minifúndios com agricultura de sobrevivência. As videiras eram conduzidas em pérgolas ou apoiadas em árvores, para permitir o uso da terra para outras culturas como os legumes e frutas, por exemplo. Nesse cenário de minifúndio, a colheita dos espécimes comestíveis era feita simultaneamente, muitas vezes não respeitando o período de maturação mais longo para as uvas. O resultado eram vinhos extremamente ácidos, engarrafados com algum teor de açúcar residual para contrabalançar a acidez, que gerava a re-fermentação em garrafa e a leve “efervescência” tão historicamente característica. Assim, vinho verde era aquele proveniente de uvas “sub-maduras”. E como basta um termo errôneo para que a confusão seja estabelecida, o tal vinho verde ficou conhecido popularmente como a antítese do vinho “maduro”, feito com uvas colhidas em grau perfeito de maturação.
Quer fazer bonito nas rodas de degustares e amigos? Evite o termo “vinho maduro”. E entregue-se à descoberta do Vinho Verde DOC, com as suas variadas castas, vinificações e encantos. O Vinho Verde é geralmente branco, mas pode ser tinto. O amor de quem prova o vinho e conhece a região, independente de preferências cromáticas, será sempre enorme! Brindemos a isso!!
Vinho Verde - Principais Castas e Sub-regiões
Ponto para quem associou a casta Alvarinho à denominação Vinho Verde DOC. No entanto, a protagonista de vinhos conhecidos pelos seus aromas de citrinos, pêssego, e por vezes algum tropical, geralmente com um corpo consistente e uma acidez a conferir frescura e convidar à harmonização, é apenas a terceira casta mais plantada na região. Embora encontrada - e autorizada - em outras partes de Portugal desde 2016, a casta Alvarinho tem o seu berço na sub-região de Monção e Melgaço, logo ao sul da fronteira espanhola. Muito especulada se nascida aqui ou lá, o certo é que Alvarinho e Albariño são perfeitamente diferenciados aos olhos (narizes?) de um degustador treinado. Tudo porque, na Espanha, a influência atlântica é ainda maior, com os seus vinhedos a receber e exaltar toda a salinidade. Enquanto que em Portugal, a localização mais continental da sub-região de Monção e Melgaço traz um clima mais quente e seco, elevando o grau de maturação e produzindo um vinho com mais corpo e álcool, além dos toques de fruta madura.
Loureiro é a casta mais plantada, seguida por Pedernã (conhecida como Arinto, no restante do país). O Loureiro é uma casta muito aromática, boa produtora de uva com qualidade e que, no Vale do Lima, montanhoso, mais aberto à influência atlântica do que o Minho e mais pobre em solo do que os vales do Cávado e do Ave, produz os melhores Loureiros na sub-região do Lima. Já era fã? Então aí vai uma ótima notícia: há um movimento de valorização da casta, impulsionado por produtores como Anselmo Mendes (veja Loureiro Private, para notas florais e de ervas aromáticas, perfeitamente equilibradas com toques de petróleo, provenientes do estágio em garrafa por 1 ano antes do lançamento, e com potencial de evoluir ainda mais nos próximos 10 anos. Imperdível!). Já quando falamos em Pedernã/Arinto, o destaque maior fica por conta da acidez, muito bem-vinda para a composição de blends, monovarietais ou mesmo espumantes.
No Sudeste minhoto, onde o clima mescla características do Minho e do Alto Douro, encontramos a sub-região de Baião e a sua casta ícone, o Avesso. Produz vinhos encorpados, com aromas de fruta cítrica e de caroço e uma acidez que em nada agride. E para quem não abre mão de um tinto, a sugestão é provar o Vinhão (conhecido como Sousão no Douro), uma casta muito rica em cor, apesar de não ser tintureira, com aromas a cerejas e acidez alta. Também é a mais plantada entre as variedades tintas e, graças ao atual movimento por vinhos tintos mais frescos, vem ganhando cada vez mais destaque entre os consumidores.
Da próxima vez que pensar em Vinho Verde, abra a mente e o coração, e explore todas as possibilidades que preparamos para si, nesta que é uma das regiões vitivinícolas mais amadas e divulgadora das potencialidades de Portugal para todo o mundo!
Brindemos a isso!!